O projeto 1ª Terça do SJPMG teve na sua edição do dia 06 de maio como tema a Internet e o jornalismo alternativo. Para debater o assunto foram convidados os jornalistas Luiz Nassif, blogueiro do Portal IG que dispensa apresentação, e Ivan Satuf, um dos responsáveis pela edição de conteúdo do Portal Uai (Diários Associados MG).
Satuf abriu a mesa colocando a distinção entre jornalismo de fato e testemunho referindo-se ao jornalismo colaborativo. “Hoje todos são jornalistas em potencial, mas esta atividade é profissional. Existem regras”, explicou, acrescentando que a forma de apuração mudou, na blogosfera qualquer é emissor e o papel do jornalista é saber organizar, selecionar e publicar o mundo vasto de informações que a web propicia em tempo real. Para ele, é necessário saber lidar com a informação que não é de sua própria produção.
Na sua opinião o que caracteriza os blogs é principalmente a centralidade da enunciação,_pois o conteúdo é identificado com seu autor e está sob sua chancela e responsabilidade_, e a ferramenta de comentários que eles forçosamente possuem. “Se não estimula a conversação não é blog”, pontificou. Satuf ainda se referiu à alteração da hierarquia dos fatos que os blogs trazem pelo seu formato vertical de postagem. Sendo assim a manchete do dia pode ficar lá embaixo ou mesmo oculta em post anterior.
Ele citou a relação dos blogs importantes com os grandes portais e chamou a atenção para o fato dos jornalistas mais consagrados da blogosfera brasileira serem profissionais que se fizeram na velha mídia, ou melhor, antes dos blogs já eram consagrados e reconhecidos. Como exemplos: Nassif no IG, Noblat no Globo.com e Juca Kfouri no UOL. E deixou a pergunta: “existirão blogueiros descolados dos grandes portais?” E ainda: “será que teremos blogueiros se destacando e se construindo somente dentro do ciberespaço?”
Interatividade
Nassif deu seu perfil, destacando que em 82 comprou seu primeiro computador com impressora e em 87 criou o Dinheiro Vivo, seu primeiro produto antes da Internet, onde conheceu sua mulher em sala de bate papo. Em seguida comparou o modo de produção convencional do jornalismo impresso ou eletrônico com o dos blogs, assinalando suas diferenças. No jornal impresso, o pauteiro seleciona pela manhã os temas para os repórteres, que produzem suas matérias e passam para os editores; o jornalista é o dono da informação. “No sistema de blogs, o jogo é outro”, afirmou.
Citou como exemplo comparativo a cobertura que ele fez em seu blog do episódio da queda do avião da Gol na Amazônia em setembro de 2006. “Depois de alguns dias eu tinha todo um quadro de informações que a mídia tradicional não possuía”, observou. Entre seus colaboradores, pilotos, engenheiros de aeronáutica e controladores de vôo contribuíram com informações valiosas e confiáveis. E comparou a coisa, destacando que a mídia tradicional tem como fonte obrigatória, especialmente nestes casos de tragédias, as autoridades. “E os maiores absurdos que saem na mídia vêem das autoridades. Já o blog obriga seu autor a ter discernimento jornalístico, bom senso e se duvidar da informação pode colocá-la e chamar para a discussão pra ver se ela é verdadeira ou não”.
Nassif anunciou o fim do jornalismo convencional. Para ele a grande mídia não tem competição e se tornou o último setor fechado da economia. E no entanto existe um enorme conhecimento espalhado pelo país através de colaboradores capacitados que a Internet utiliza. Ele cita o exemplo da colaboração de um médico mineiro, Eugênio ???, que através da Internet contribuiu muito para a política de saúde implementada pelo Serra, quando ministro de FHC. E se refere aos seus colaboradores como de altíssimo nível, um grupo que reúne especialistas em comércio exterior, economia, gestão e diplomacia, entre outros temas, inclusive poesia.
Rede de colaboração
“O Brasil é um país sofisticado hoje. Os partidos não representam nada, a imprensa não capta e os jornais são o que saiu na web ontem”. Para ele os princípios jornalísticos ainda são essenciais, mas as ferramentas são diferentes porque ninguém é dono mais da informação. Ela é abundante na web e vem de todos. E reforça que blog é comentário aberto e interação. “O leitor é fonte preciosa de notícia, mas é você que tem que criar o caráter do blog com código de conduta para que o colaborador possa se adequar”. Deu também conselhos: o blogueiro deve ser humilde para saber quando o leitor tem razão e ter segurança para reagir e assimilar sua crítica.
Fundamental na opinião de Nassif para o jornalista na blogosfera é saber trabalhar com a grande massa de informação e não deixar o conteúdo por conta só dos comentários. Ele cita as novas ferramentas de tecnologia que trazem os indicadores. Quando estes apontam algo inédito aí está a pauta. Outros pontos importantes para ele são: o blogueiro saber ser um bom provocador para extrair o melhor dos leitores, organizar as informações, estruturar a discussão e extrair a matéria de todo esse processo. “Você é obrigado a ser muito mais jornalista do que no modelo atual”, advertiu.
Para o futuro imediato Nassif anunciou o blog como componente de comunidades de discussão, fóruns on line, painéis trabalhando com o conceito de indicadores e gerando documentos. E citou a nova ferramenta que são os projects, indicadores que são programados com os prazos determinados pelo projeto pesquisado. Quando vence o prazo de determinada etapa o project avisa.
A grande reportagem
Nassif ainda criticou severamente o jornalismo dos anos 90, “quando a notícia passou a ser tratada como marketing” e defendeu a internet como alternativa para buscar visões diferentes do cartel do mercado de opinião, que passou a significar a mídia convencional. Então, ele prevê a reorganização do sistema de informações a partir da web e da blogosfera.
Sua rotina de produção do blog começa às 10 da noite, quando posta o trivial. Às 7 horas da manhã seguinte posta a coluna e durante o dia vai postando de 10 a 15 notas. Às 9 ou 9:30 horas da manhã posta notas e libera os comentários. Nos fins de semana produz mais notas.
Interpelado pela platéia sobre a possibilidade de remuneração através do trabalho com blogs Satuf observou que isso só acontecerá quando os grandes anunciantes migrarem para a Internet. Ele anunciou ainda uma ferramenta que poderá ser útil para a captação comercial dos blogs que é o Analicts (?), que dá a medição de audiência dos sites com muita precisão, incluindo o tempo que o internauta permaneceu em visita à página ou link. Ele também chamou a atenção para a necessidade de manutenção da gratuidade do acesso aos sites e assinalou que dispositivo novo pede narrativa nova e é o que todos que trabalham na área ainda estão buscando.
Outro ponto levantado pela platéia foi a possibilidade de presença da grande reportagem na web. Nassif afirmou que a Internet acata perfeitamente o formato da grande reportagem, que os jornais impressos abandonaram. E para isso só é necessário o grande jornalista para escrevê-la e postá-la. Ele citou a sua série sobre a Veja que fez muito sucesso em seu blog.
quarta-feira, 7 de maio de 2008
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