sexta-feira, 25 de abril de 2008

Moda, revolução e comportamento em 1968

Caldeirão de tendências e contestação redesenham o estilo da juventude no período

O ano é marcado pela eclosão dos movimentos políticos e culturais dos jovens nos EUA e Europa, mas a moda já passava por uma revolução acompanhando a onda londrina dos anos 60, a chamada “swinging London”. Mary Quant já havia lançado a minissaia, os Beatles já tinham ido à Índia. Em Paris, os estudantes se rebelavam nas ruas promovendo o episódio que entrou para a história sob o nome de “maio de 68”. Nos EUA, os jovens se manifestavam nos campus universitários e nos espaços públicos contra a guerra do Vietnã. No Brasil, a ditadura endurecia com a decretação do A I5 e a mobilização estudantil se radicalizava em torno da luta armada.
Na Califórnia, a emergente cultura hippie antecipava o cruzamento de tendências estéticas mundiais no modo de vestir. E na costa leste, o movimento peace and love se afirma, assim como o consumo de drogas lisérgicas, embutido no pacote da revolução cultural que eclodia na sociedade americana.
No Brasil, Caetano Veloso reagiu a vaia em festival de música paulista com o lema “É proibido proibir”, conceito que vinha dos grafites nos muros de Paris e atravessa a exuberância de vertentes que a moda jovem passa a disseminar desde 68. Nesse cenário, onde os jovens brasileiros tinham acesso à cultura de massas, e por isso mesmo procuravam reproduzir os padrões da juventude ocidental, uma “anti-moda” começava a se evidenciar com influência militar, jeans reciclados e camisetas baratas.
A década, que tinha começado sob a influência do rock and roll e seus estilos importados, viu o prêt-à-porter _a roupa pronta para usar_ se expandir. Em Paris, centro mundial da moda, novos designers renovavam a própria alta costura. Entre eles, Cardin, Courreges e Paco Rabanne propunham looks futuristas e acessórios pop. Até a arquitetura moderna e o design contemporâneo redesenhavam o jovem estilo urbano. Yves Saint Laurent modernizava a alta moda introduzindo o safári, o casual e o estilo masculino para o feminino. O tubinho curto pode ser considerado o vestido da década, porém em 68 já estava em vigor também a mistura de estilos no ambiente jovem, profundamente influenciado pelas estrelas da música, do cinema e das artes em geral.
Havia uma estilização feminina que vinha dos cabelos, lisos e armados, da maquiagem de boca clara e olhos com cílios postiços evoluindo para um look mais selvagem com forte apelo fashion. Para os rapazes o cabelo longo anunciava uma nova ordem que aproximava irremediavelmente os dois sexos ou todos os sexos. As garotas começavam a se vestir no dia a dia como os rapazes: de jeans, camisa xadrez, mocassins, sapatilhas, camisetas; síntese que viria a ser chamada de moda unissex.
A atitude refletia os novos papéis sociais da mulher, revistos a partir do movimento feminista e do acesso deste contingente à educação de nível superior, à pílula anticoncepcional e à revolução sexual. Blusas de gola roulê para os dois sexos, calças estilo capri justas e ao mesmo tempo peças que vinham de outras culturas_como as túnicas, batas, longos dos países do Oriente_ começavam a invadir o guarda roupa dos jovens ocidentais dos grandes centros urbanos.
No Brasil, tanto a Jovem Guarda durante os anos 1960, como o Tropicalismo a partir de 1968, subvertem os padrões no modo dos jovens se vestirem. Gal Costa e Rita Lee, entre outras, eram as musas com seu looks étnicos e hippie chique, um símbolo para as garotas que amavam não só os Beatles e os Rolling Stones, mas também a arte pop, o cinema novo, a nouvelle vague e o underground.
O biquíni brasileiro é difundido a partir de Ipanema, que também lançava moda para o país com suas primeiras butiques charmosas. Em São Paulo, a Rua Augusta era o reduto da moda jovem e em Belo Horizonte, esse movimento se iniciava na Savassi, circuito que começava a se estabelecer com pequenas lojas do segmento alternativo da indústria de prêt-à-porter que se anunciava no Brasil.
O foco do objetivo do modo de vestir muda da distinção social para a cultural durante a década de 60. Gilles Lipovetsky, filósofo francês pensador sobre a moda, localiza essa virada. Para ele até os anos 50, as jovens se espelhavam em suas mães para se vestirem, mas a partir dos anos 60 são as mães que passam a copiar as filhas. Antes disso Mary Quant profetizou: “a moda leva você a ser o que você quiser”.
Desde então a hegemonia da cultura jovem veio contaminando o mercado de bens de consumo fashion como um todo. O sistema capitalista se apropriou dos signos da contestação e os incorporou à grande indústria da moda. E hoje, 40 anos depois do marco que significou 68, os jovens se tornaram tanto os arautos das novas tendências como seus primeiros consumidores.

(Matéria publicada na revista 040 (Belo Horizonte/MG/Abril de 2008)

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Depilação brasileira em alta

Associada a novo hábito comportamental das norte-americanas ela recebe destaque como influência colonizadora

O hábito vem desde o antigo Egito, mas integra também os costumes de outras sociedades pelo mundo, inclusive as tribais. Na atualidade, está em alta no Ocidente, até mesmo para os homens, que andam depilando tórax, costas e até pernas. No Brasil, país dos biquínis mínimos e costa atlântica vasta, as mulheres se entregam de tal maneira à prática, que esta, exportada para os EUA, é conhecida hoje como brazilian waxing. Wax quer dizer cera, portanto trata-se da depilação com cera quente, técnica muito bem desenvolvida pelas esteticistas brasileiras.
A edição de 2003 o dicionário britânico Oxford incluiu o termo “brazilian” como sinônimo de depilação excessiva do púbis, necessária para usar biquínis menores que os do padrão europeu. De acordo com uma das editoras da publicação, Catherine Soanes, ouvida pela BBC Brasil, os brasileiros não devem ficar ofendidos. “Eu sei que é um tema delicado, mas existe também a depilação Hollywood, que é ainda mais intensa e não deixa sobrar nada”, observa a jornalista.
Então, já que somos os introdutores do hábito radical nos países do hemisfério norte, as técnicas utilizadas aqui também são exportadas para lá principalmente por profissionais brasileiras. No site www.floridabrasil.com/saloes encontramos uma série de salões de brasileiros nas cidades da Flórida, anunciando seus serviços em depilação.
Artigo da escritora americana Tracy Quan, denominado “Waxing Philosophical” (Filosofando sobre depilação), no site www.alternet.org/story /, afirma que no hemisfério norte o verão vem e vai, mas a depilação brasileira está lá para ficar não como turista, mas como residente permanente.
Ela endossa que o novo comportamento relativo à depilação pubiana excessiva tornou-se um hábito fashion, disseminado na sociedade, e não mais restrito ao gueto onde militam as atrizes de filmes pornográficos. E se refere à “brasinilização” das mais escondidas regiões do corpo dos norte-americanos como um novo fato da vida urbana, “já que a globalização nem sempre está em torno de valores impostos pelos EUA sobre outras culturas, nossas partes mais íntimas estão sendo colonizadas por esteticistas que vêm do lado de baixo do Equador”, conclui a escritora.

Titita Motta
(Matéria de setembro de 2004

Modernidade e moda

O mundo fashion é um universo paralelo perfeitamente compreensível para os iniciados nos seus códigos permanentes ou mutantes. No entanto, para os que não pertencem ao meio, marinheiros de primeira viagem ou meros iniciantes na tentativa de se familiarizar com os conteúdos abrangentes da área, as dificuldades logo se apresentam.
Para começar hoje, a moda está presente em tudo: na atitude, nos acessórios e na roupa, mas também na comida, nos destinos de viagens, no design do espaço, na escolha dos restaurantes ou casas noturnas, no som ambiente, no próprio local e no formato dos eventos, lançamentos ou mesmo comemorações sociais ou empresariais.
A roupa do fashion people não obedece a regras palpáveis. Veste-se o que esteja de acordo com o estilo de quem a carrega, mas geralmente com itens da estação. Aí as tribos se manifestam. Só é proibido ser acadêmico, passar a impressão de que se produziu muito e combinou coisa com coisa, formalizando o look.
A roupa em si até adquire menos importância, mas os acessórios como óculos, bolsas e sapatos dizem muito sobre o senso de atualização do usuário. E a coisa começa na silhueta, no jogo das composições e termina nos detalhes. E ainda no corte do cabelo e no make. Regras já não existem mais e informação é tudo. O segredo está em personalizar seu look de acordo com seu gosto e preferências, abraçando aquilo que as tendências trazem para lhe favorecer.
Desconfie de quem diz que moda não é para ser seguida. Que renega o valor do termo e sua influência. É necessário um mínimo de humildade,_embora isso possa parecer absurdo_ , para admitir sim que a moda rege nossas vidas, ou pelo menos o nosso estilo de vida inexoravelmente para o bem ou para o mal.
Titita Motta
(Maio 2007 )

A "Terceira Mulher" cultiva a diferença

O filósofo francês, autor do “Império do Efêmero” e de “A Terceira Mulher”, Gilles Lipovetsky, em palestra, fez uma reflexão sobre o papel da moda na atualidade numa interessante abordagem da relação entre modo de vestir, emancipação feminina e culto da estética da sedução. Ele analisou a evolução da vestimenta através do século XX, assinalando especialmente as mudanças ocorridas nos últimos 30 anos, quando o status das mulheres evoluiu consideravelmente. “A roupa não é mais emblema de hierarquia, ela traduz o que convém ao indivíduo. No século XIX, as mulheres se vestiam como quem não tinha nada a fazer e não tinham mesmo. Mas agora, uma mulher pode oferecer uma imagem diferente a cada momento. Pela manhã de roupa de ginástica, depois de jeans e camiseta e à noite de vestido elegante”, explicou.
Para o filósofo, vivemos em uma época de extrema diversificação, quando se pode passar de uma roupa muito descontraída para um traje de trabalho sóbrio. Segundo ele, hoje, a roupa deve oferecer uma imagem jovem, traduzir um desejo ou toda uma gama de desejos. “Até os anos 50, as jovens imitavam as mães. A partir dos anos 1960 as mães passaram a copiar o estilo das filhas”, pontificou. Mas, assinalando que na era pós-feminista, as mulheres estão sempre do lado da sedução. E como o tempo é curto para tantos afazeres _os profissionais e os relativos à casa e à família _ o ato de comprar roupas e ir ao cabeleireiro adquire total importância. Estes significam momentos de relaxamento e de cuidado consigo mesmas, muito valorizado por mulheres que vivem sob tensão.
Ele citou a obsessão por regimes alimentares, práticas esportivas, lipoaspiração e cirurgias plásticas. Livros sobre dietas de emagrecimento se tornam best sellers e a roupa de baixo é de fato o que realça um corpo bonito e bem cuidado. “Os gastos com vestuário declinaram, segundo dados europeus, mas o consumo de lingerie cara e sofisticada aumentou”. Na sua opinião, a estética do corpo feminino nunca esteve tão direcionada nas sociedades desenvolvidas, onde o modelo da mulher magra se impõe, assim como a manutenção da forma. Na nossa cultura, o corpo tem importância fundamental.
Por outro lado, vivemos em sociedades de autonomia individual. As oportunidades são as mesmas para os dois sexos e as mulheres têm hoje as mesmas responsabilidades dos homens, o que as leva a se desligar do padrão de identidade preconizado pelas feministas. Concluindo, segundo Lipovetsky, chamada terceira mulher pode se reconciliar com o papel tradicional do feminino, procurando aliar sedução e eficiência, rejeitando o fascínio pelo modelo masculino e a guerra contra os papéis convencionais, cultivada pelos movimentos de emancipação feminista.
Para escrever “A Terceira Mulher”, o filósofo se debruçou sobre a questão do trabalho, estudo e liberdade sexual, concluindo que as diferenças entre feminino e masculino tendem a desaparecer em sociedades onde prevalece a anulação da diferença sexual. É neste ponto que ele assinala a necessidade de resistência dos papéis tradicionais femininos e o imperativo dos valores que se dirigem à moda, à sedução e à beleza.

Titita Motta
(Matéria publicada no site Moda Brasil em outubro de 1998)

sexta-feira, 18 de abril de 2008

As modelos brasileiras no ranking internacional

Titita Motta

No disputado mercado mundial de modelos o termômetro oscila como nas bolsas de valores as ações dos grandes grupos internacionais sobem e descem. O parâmetro para se avaliar modelos femininos ou masculinos é a quantidade e importância das marcas e campanhas que protagonizam e ainda sua participação nas passarelas das principais temporadas de lançamento de coleções: as de Paris, Milão, Londres, Nova Iorque e Tóquio.
Hoje no mercado fashion, a brasileira Raquel Zimmermann está ocupando o primeiro lugar do ranking. O site models.com se refere a ela como exemplo de longevidade num ramo onde a permanência é cada vez mais efêmera. Linda, sofisticada e loura, abre os desfiles das mais importantes grifes mundiais e faz atualmente as campanhas de Fendi, Valentino e H&M.
Na sétima posição se encontram a paranaense Isabeli Fontana e a louríssima Caroline Trentini. Isabeli retornou triunfalmente e é tão requisitada que já ocupa também o sétimo lugar no ranking do mercado sexy. Caroline é outra que se mantém no topo desde 2006. Está presente nas campanhas de Gucci, Oscar de la Renta, D Squared, Valentino e Dolce & Gabbana.
Flávia Oliveira acaba de chegar ao 49º lugar nesta disputada lista. Novas modelos aparecem e ainda não figuram no ranking. Entre estas, Aline Weber, que abriu o desfile de Balenciaga inverno 2008, Carol Pantoliano e Bruna Tenório, com campanha da D&G. Muitas trabalham bem no mercado internacional há algum tempo. Entre elas, Talita Pugliese e Michele Alves que comemora 10 anos de mercado.
No segmento masculino Michael Camiloto acaba de alcançar a 30º posição da lista fashion com editorial na L’Uomo Vogue e na Arena, além de campanha verão 2008 da Dolce & Gabbana.
Já no mercado sexy a invencível Gisele Bundchen, que faturou impressionantes US$90 milhões em 2007, ocupa o segundo lugar, a baiana Adriana Lima o terceiro, Alessandra Ambrósio o sexto, a mineira Ana Beatriz Barros no nono, Fernanda Tavares no 15º e Fernanda Motta no 19º. Vê-se que este time de vencedoras permanece no topo desde o início dos anos 2000 e vem apenas se deslocando do segmento fashion para o sexy, fama esta aliás que as brasileiras carregam no mercado internacional, desde que surgiram em meados dos anos 90 com seus looks saudáveis e bronzeados nas passarelas européias.
O movimento do mercado
No site models.com, informativo do ranking, é possível acompanhar o movimento da cotação das modelos no setor de moda (passarelas, editoriais e campanhas) e no chamado mercado sexy, auditado pelos contratos com grifes de lingerie como a Victoria’s Secret e de cosméticos, além de publicações especializadas como a Sport Illustrated e o calendário da Pirelli.
As modelos brasileiras vêm evoluindo neste cenário desde 1999 no rastro do sucesso do furacão Gisele Bundchen. Muitas se estabeleceram porque estouraram nas passarelas e páginas das revistas de moda internacionais e firmaram a reputação do Brasil como pólo de exportação de gente bonita para o milionário circuito das campanhas das grandes grifes mundiais. E como se trata de um ramo onde os talentos emergem rapidamente e a renovação estética aponta para parâmetros étnicos com a mesma velocidade, o contingente de garotas louras do leste europeu logo ocupou o lugar antes reservado ao time das beldades brasileiras.
Porém como uma vez consolidada, reputação não se perde e esse primeiro grupo de modelos from Brazil, continuou a estrelar campanhas importantes, passarelas do mesmo quilate e ainda abriu as portas para a entrada no mercado de novos talentos, exportados pelas agências estabelecidas em São Paulo e Rio de Janeiro e ainda suas filiais em outros estados.

(Abril de 2008 revista Estilo Minas 07)